quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A liberdade no interior da escravidão: a liberdade da consciência a partir da dialética hegeliana do senhor escravo, na obra Fenomenologia do Espírito

                Por Paulo Eduardo Roda

A dialética do Senhor e do Escravo de Hegel representa, segundo uma metáfora, uma racionalidade dialética que faz o Universo funcionar como um grande pensamento movendo-se pela tríade: tese, antítese e síntese. Tudo na filosofia, inclusive no sistema hegeliano, bem como na história, move-se a partir dessa tríade. A dialética é a história do espírito, é a contradição do pensamento que parte de uma afirmação à negação, sem que o negado seja excluído, pois o mesmo permanece dentro da totalidade. Assim, a dialética é o motor da racionalidade, é o devir da razão. O grande questionamento deste presente trabalho se encontra a partir da reflexão dessa dialética que, representada pela parábola do Senhor e do Escravo, procurará demonstrar o engodo ocorrido no processo formativo da consciência e conseqüentemente, a liberdade. A metáfora mostrará que, a partir da tríade já mencionada, para que haja a verdadeira reflexão, são necessários os momentos do medo e do trabalho, ou do serviço em geral, que exigem a disciplina e a obediência.
                Todo o sistema hegeliano, ao se mover dialeticamente, descreve o movimento do Absoluto que atinge seu ápice a partir da superação da dicotomia entre o subjetivo e o objetivo. Porém, para que isso aconteça, é necessário o devir. No primeiro momento, o Absoluto ainda é Idéia (tese) e se divide em ser, essência e conceito; e, por ser em-si, tem a realidade, mas ainda não tem a existência. No segundo momento, ocorre a manifestação do Absoluto, ou seja, a sua exteriorização. Agora a Idéia está fora-de-si, é Natureza (antítese) que se divide em mecânica, física e orgânica. Esta é a idéia manifestada para ter existência. E, por fim, no terceiro momento, ocorre o retorno do Absoluto que passa, agora, a ser-para-si. Esse é o momento do Espírito (síntese), dividido em objetivo, subjetivo e absoluto. Agora, tem-se a Natureza junto com a Realidade, ou seja, a Idéia. Conclui-se, assim, o sistema hegeliano, cujo Absoluto passa a ser conhecido, goza de si mesmo e adquire a verdadeira liberdade.
                Contudo, quando se fala dialeticamente de consciência, fala-se de espírito, de absoluto, de indivíduo, de nação. Na dialética do Senhor e do Escravo estão incluídos três significados: o primeiro é filosófico, cuja consciência experimenta-se a si mesma através das sucessivas formas de saber que serão assumidas e julgadas pela Ciência e para Filosofia; o segundo é cultural, em que o homem ocidental moderno fará de sua vida uma tarefa de decifração do enigma de uma história que se desenvolve na luta por um sentido, por uma liberdade; e por fim, o terceiro, que é histórico, ou seja, a junção da filosofia com a cultura, em que o indivíduo possui a necessidade de percorrer a história da formação do seu mundo de cultura como caminho que permitirá o seu formar-se para a Ciência. Todos esses significados se entrecruzarão na dialética do Senhor e do Escravo.

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