sábado, 16 de outubro de 2010

(Resenha) A Era das Revoluções - Capítulo 2: A Revolução Industrial

Os alunos do 2º ano de Filosofia, estão participando do seminário sobre A era das Revoluções de Eric Hobesbawm, serão publicados as resenhas. Vale apena acompanhar.
Prof. Ms Ulisses Abruzio

A ERA DAS REVOLUÇÕES
                                       Capítulo 2: A Revolução Industrial (Resenha
Por Paulo César Travaglini


Eric Hobsbawm inicia falando do próprio nome “Revolução Industrial”, o qual reflete um impacto relativamente tardio sobre a Europa. O fato existia na Inglaterra antes do termo. A década de 1780 foi, segundo a maioria dos estudiosos, o ponto de “partida” para a Revolução, a qual não se pode dizer completa, visto que ainda prossegue.
            O avanço britânico não se deveu à superioridade tecnológica e científica, mesmo porque os franceses é que estavam à frente nesse quesito (produziam, por exemplo, melhores navios e o mais completo tear). As condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha: mais de um século se passara desde que o primeiro rei fora julgado e condenado; o lucro privado e o desenvolvimento econômico eram os supremos objetivos da política governamental; já não se falava em um “campesinato britânico”, pois as atividades agrícolas já estavam predominantemente dirigidas para o mercado; as manufaturas já se haviam disseminado por um interior não feudal. Além disso, a Grã-Bretanha possuía uma indústria admiravelmente ajustada à revolução industrial pioneira, em condições de se lançar à indústria algodoeira e à expansão colonial.
            O autor prossegue falando do comércio colonial, que criara a indústria algodoeira e continuava a alimentá-la. As plantações das Índias Ocidentais forneciam o grosso do algodão para a indústria britânica e, em troca, os plantadores compravam tecidos de algodão em apreciáveis quantidades. Entre 1750 e 1769, a exportação britânica de tecidos de algodão aumentou mais de dez vezes. Por volta de 1840, a Europa adquiriu 200 milhões de jardas de tecidos de algodão, enquanto as áreas “subdesenvolvidas” adquiriram 529 milhões; merecendo destaque a América Latina – já separada de Portugal e Espanha – e as Índias Orientais.
             O algodão, portanto, fornecia possibilidades astronômicas para tentar os empresários privados a se lançarem na aventura da revolução industrial. Com relação à maneira mais óbvia de se expandir a indústria no século XVIII, fala-se do sistema “doméstico”, no qual se trabalhava a matéria-prima nas casas, recebendo-a e entregando-a aos mercadores que estavam a caminho de se tornar patrões.
            Continuando, Hobsbawm diz que, em 1830, a “indústria” e a “fábrica” no sentido moderno ainda significavam quase que exclusivamente as áreas algodoeiras do Reino Unido. Se o algodão florescia, a economia florescia, se ele caía, também caía a economia. Só a agricultura tinha um poder comparável, embora estivesse em visível declínio.
O progresso da indústria algodoeira, entretanto, gerava, entre 1830 e 1840, acentuada desaceleração no crescimento e até um declínio da renda nacional britânica nesse período, o que gerou descontentamento social. As crises periódicas da economia, que levavam ao desemprego, quedas na produção, bancarrotas, etc., eram bem conhecidas.
Dando prosseguimento, fala-se da metalurgia, especialmente a do ferro, que permanecia modesta. Em 1790, a produção britânica suplantou a da França em somente 40%. Na verdade, a produção britânica de ferro, comparada à produção mundial, tendeu a afundar nas décadas seguintes.
Já a mineração era forte no período: em 1800, a Grã-Bretanha deve ter produzido cerca de 10 milhões de toneladas de carvão, ou aproximadamente 90% da produção mundial. Essa imensa indústria estimulou a invenção básica que iria transformar as indústrias de bens de capital: a ferrovia. Mal tinham as ferrovias provado ser tecnicamente viáveis e lucrativas na Inglaterra (por volta de 1825-1830) e planos para sua construção já eram feitos na maioria dos países do mundo ocidental, embora sua execução fosse geralmente retardada.
Se outra forma de investimento doméstico podia ter sido encontrada – por exemplo, na construção – é uma questão acadêmica para a qual a resposta permanece em dúvida. De fato, o capital encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas tão rapidamente e em tão grande escala sem essa torrente de capital, especialmente na metade da década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois, de imediato, as ferrovias resolveram virtualmente todos os problemas do crescimento econômico.
Eric Hobsbawm dá continuidade dizendo que uma economia industrial significa um brusco declínio proporcional da produção agrícola (isto é, rural) e um brusco aumento da população não agrícola (isto é, crescentemente urbana), e, quase certamente, (como no período em apreço) um rápido aumento geral da população, o que, portanto, implica, em primeira instância, um brusco crescimento no fornecimento de alimentos, ou seja, uma “revolução agrícola”.
Também é apontado o problema do fornecimento de mão de obra. Com efeito, conseguir um número suficiente de trabalhadores com as necessárias qualificações e habilidades era tarefa difícil. Todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria: ritmo diário ininterrupto, por exemplo, diferente do trabalhador agrícola ou do artesão independente. Instaurava-se a disciplina do operariado, a fim de estabelecerem-se mecanismos de controle. Também era mais conveniente empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças.
O autor finaliza dizendo que tanto a Grã-Bretanha quanto o mundo sabiam que a revolução industrial lançada nestas ilhas, não só pelos comerciantes e empresários como através deles, cuja única lei era comprar no mercado mais barato e vender sem restrição no mais caro, estava transformando o mundo. Nada poderia detê-la. Os deuses e os reis do passado eram impotentes diante dos homens de negócios e das máquinas a vapor do presente.

BIBLIOGRAFIA

HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789-1848. 25. Ed. SP: Paz e Terra, 2010.

4 comentários:

  1. Otima resenha, muito bem descrita, e de grande ajuda!

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  2. Muito boa a resenha, bem esclarecedora para quem quer ter uma noção geral. Obrigado e parabéns pelo trabalho.

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  3. kd o capitalismo e o socialismo?

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  4. Muito bom.Fico feliz em saber que existem pessoas que não tem,nenhum problema em dividir
    conhcimentos.

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